O renomado psicólogo social americano Jonathan Haidt, autor do best-seller A Geração Ansiosa, esteve no Brasil esta semana para lançar um alerta perturbador: a infância moderna está em crise, e as telas são as grandes vilãs.
Em um evento fechado em São Paulo, reuniu-se com secretários de educação, parlamentares e representantes da sociedade civil para apresentar dados alarmantes sobre como o uso excessivo de smartphones e redes sociais está minando a saúde mental e a capacidade de aprendizado das novas gerações.
Com a clareza que o consagrou como um dos principais pensadores da atualidade, Haidt foi incisivo: “Desde 2015, nossas máquinas ficaram mais inteligentes, e os humanos, mais distraídos – e, possivelmente, mais estúpidos.” Suas palavras ecoaram como um chamado à ação diante de uma epidemia silenciosa: crianças e adolescentes estão perdendo a capacidade de concentração, de lidar com frustrações e até mesmo de estabelecer relações profundas.
Haidt não poupou críticas à ideia de que mais tecnologia na educação significa avanço. Citando pesquisas recentes, mostrou como a presença de telas em ambientes escolares – muitas vezes celebrada como modernização – está prejudicando o aprendizado. “Até em universidades de elite nos EUA, os alunos não leem mais. Eles convertem PDFs em vídeos curtos porque não têm paciência para textos longos”, revelou. O resultado? Uma geração que luta para processar ideias complexas.
Para ele, a solução não está em mais aplicativos ou plataformas digitais, mas no retorno ao básico: “Invistam em playgrounds melhores, deixem as crianças brincarem sem supervisão excessiva, sem medo do risco. É simples e barato.” A sugestão, porém, encontrou resistência em alguns gestores presentes, como o secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, que recentemente defendeu a substituição de livros físicos por digitais – uma proposta que, após críticas, foi revista.
Haidt foi além e defendeu medidas radicais: “As redes sociais deveriam ser proibidas para menores de 16 anos.” Ele elogiou o Brasil por já restringir celulares em escolas, mas insistiu que é preciso ir mais longe. “Em dois anos, a inteligência artificial vai transformar a vida das crianças. Se não agirmos agora, será tarde.”
O psicólogo também alertou para os impactos sociais e emocionais do vício digital. “Protegemos demais as crianças no mundo real e as abandonamos no virtual”, disse, citando casos de adolescentes que, em vez de ler livros, consomem conteúdos superficiais no TikTok. “Se suas ideias sobre relacionamentos vêm da pornografia, achando que amor envolve violência, isso é uma degradação do espírito humano.”
Deputados presentes, como Mendonça Filho (União Brasil) e Pedro Campos (PSB), questionaram como convencer o Congresso e a população da urgência do tema. Haidt foi direto: “Precisamos falar sobre degradação. Mostrar como a infância está sendo roubada.”
O evento, organizado pela deputada Marina Helou (Rede) e pela Fundação Lemann, deixou uma mensagem clara: as crianças precisam de infância. De brincar livremente, de errar, de se frustrar – longe do brilho hipnótico das telas.
Agora, resta saber se o Brasil – um país que se orgulha de sua alegria e espontaneidade – vai ouvir o alerta antes que seja tarde. Ou se, como tantas vezes, vamos deixar que a infância se torne apenas mais um produto da era digital.