Pesquisadores encontra navio naufragado há 700 anos na Noruega

O Lago Mjøsa, o maior da Noruega, guarda em suas profundezas uma história fascinante que remonta à era medieval. Um barco de carga e ageiros, conhecido como føringsbåt, foi descoberto a mais de 400 metros de profundidade, proporcionando um vislumbre raro das práticas comerciais e marítimas da região entre os séculos XIII e XVII. Essa descoberta, fruto de uma investigação acidental durante uma busca por munições da Segunda Guerra Mundial, oferece detalhes preciosos sobre a vida e os avanços tecnológicos da época.

A surpreendente descoberta no fundo do Lago Mjøsa

Em 2022, uma equipe de pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) e do Estabelecimento Norueguês de Pesquisa de Defesa (FFI) localizou o barco enquanto usava sonar para mapear o fundo do lago. A missão original visava localizar munições descartadas durante a Segunda Guerra Mundial, mas o achado inesperado mudou o curso da pesquisa. Em outubro de 2023, a equipe voltou ao local para examinar o barco com maior detalhe, utilizando um veículo subaquático operado remotamente.

Apesar de condições climáticas adversas e problemas técnicos, os pesquisadores conseguiram explorar o naufrágio por cerca de uma hora, revelando características únicas do barco. Sua identificação como um føringsbåt foi confirmada graças a detalhes estruturais, como o casco plano e a popa vertical, características que distinguem esses barcos das embarcações vikings mais conhecidas.

Um navio feito para o Lago Mjøsa

Os føringsbåts eram embarcações essenciais para o transporte de carga e ageiros no Lago Mjøsa. Construídos especificamente para águas calmas e rotas comerciais do interior da Noruega, eles desempenharam um papel vital na economia local durante séculos. O lago, com 117 quilômetros de extensão e 360 quilômetros quadrados de área, era uma rota comercial crucial desde o século VIII.

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A construção do barco, de aproximadamente 10 metros de comprimento, evidencia a evolução das práticas de construção naval pós-viking. Diferente das embarcações anteriores, que tinham a mesma estrutura na proa e na popa, o føringsbåt apresentava uma popa vertical e um leme central na parte traseira, permitindo uma navegação mais controlada.

Técnicas de construção revelam a idade do barco

Uma das descobertas mais intrigantes foi o uso de tábuas de madeira mais largas no casco do barco. Segundo o arqueólogo marítimo Øyvind Ødegård, líder da pesquisa, essas tábuas foram cortadas com machados, uma técnica comum antes da introdução de serrarias modernas. Esse detalhe sugere que o barco foi construído entre 1300 e 1700, possivelmente no início desse período.

Outro indicativo da antiguidade do naufrágio é a profundidade em que foi encontrado. Coberto por camadas de sedimentos, apenas partes do casco e da proa estão visíveis, sugerindo que ele permaneceu enterrado por séculos. Embora as águas doces do Lago Mjøsa ajudem a preservar a madeira, a ausência de vermes navais também dificulta a determinação precisa da idade através da análise de decomposição.

O possível naufrágio e suas causas

Apesar de o Lago Mjøsa ser conhecido por suas águas calmas, ele possui correntes fortes em certas áreas, o que pode ter contribuído para o naufrágio. Ødegård acredita que o barco pode ter enfrentado condições inesperadas enquanto transportava mercadorias ou ageiros, resultando no acidente. “Não é o lugar mais calmo”, afirmou em entrevista à Live Science, sugerindo que as correntes podem ter sido fatais para a embarcação.

Um cemitério de naufrágios no Lago Mjøsa

O Lago Mjøsa é conhecido por abrigar um número significativo de naufrágios. Expedições anteriores já localizaram cerca de 20 embarcações perto da costa, íveis a mergulhadores. No entanto, acredita-se que nas profundezas mais traiçoeiras do lago haja ainda mais naufrágios esperando para serem descobertos. Esse vasto cemitério submerso oferece uma oportunidade única para arqueólogos estudarem a história marítima da Noruega.

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Os pesquisadores da NTNU planejam retornar na primavera para uma investigação mais detalhada. Com melhores condições climáticas, eles esperam coletar amostras de madeira do barco para realizar a datação por radiocarbono, confirmando com mais precisão sua idade e origem. Essa análise pode lançar luz sobre a história econômica e social da região durante o período medieval.

A descoberta do føringsbåt no Lago Mjøsa não é apenas uma janela para o ado, mas também um lembrete do papel vital que as vias navegáveis desempenharam no desenvolvimento das comunidades humanas. Esse achado reforça a importância da arqueologia subaquática para desvendar segredos históricos e preservar o patrimônio cultural. À medida que mais expedições forem realizadas no Lago Mjøsa, é provável que novos segredos venham à tona, enriquecendo ainda mais nossa compreensão sobre a história marítima e comercial da Noruega.