A extinção da literatura: Veja 6 livros que George Orwell salvaria no fim do mundo

Se um dia todas as bibliotecas do mundo se perdessem, restaria a pergunta: quais livros deveriam ser salvos para que a chama da humanidade e do pensamento crítico continuasse acesa? George Orwell, conhecido por sua lucidez implacável e aversão a doutrinas totalitárias, sem dúvida teria respostas afiadas e provocadoras.

Em sua lista de obras essenciais, encontrariam lugar não apenas os romances épicos e as sátiras mordazes, mas também as obras que desnudam o espírito humano, sem medo de suas contradições e dilemas. Vamos explorar juntos essa seleção que, para Orwell, representaria o coração pulsante da literatura.

A Bíblia
1.200 páginas
Orwell jamais foi um devoto religioso. Pelo contrário, seu olhar crítico sempre se voltou contra o fanatismo e a imposição dogmática das religiões organizadas. Mas mesmo para um pensador tão avesso à fé cega, a Bíblia é uma obra que não poderia ser deixada para trás. Ela é, acima de tudo, um testemunho da linguagem, da cultura e da imaginação humana. Nos salmos poéticos, nas narrativas épicas e nos sermões contundentes, a Bíblia moldou a moralidade ocidental e continua sendo uma referência fundamental, mesmo para quem não a lê com fervor religioso. Orwell via nisso um legado cultural indispensável – um livro que, apesar das divergências, pertence a toda a humanidade.

As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
352 páginas
Orwell não resistiria à sátira ferina e elegante de “As Viagens de Gulliver”. Swift foi um mestre em revelar a hipocrisia dos poderosos, a futilidade das vaidades humanas e os labirintos do absurdo social. Para Orwell, que fez da ironia uma arma contra os abusos de poder, este livro seria um farol no escuro. “As Viagens de Gulliver” transcende o riso: é um convite para questionar tudo aquilo que se apresenta como verdade absoluta. Por isso, para Orwell, o humor de Swift não apenas diverte – ele ilumina.

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Os Ensaios, de Michel de Montaigne
1.000 páginas
Montaigne, com sua escrita intimista e confessional, era para Orwell a antítese do autoritarismo. Em “Os Ensaios”, Montaigne expõe suas dúvidas, seus medos e suas observações sem jamais pretender ser o dono da verdade. Essa honestidade intelectual e essa recusa em dobrar a espinha para o dogma eram qualidades que Orwell prezava. Afinal, para quem acreditava que a liberdade de pensamento é o único antídoto contra a tirania, a obra de Montaigne era um santuário. Leitura que, mesmo densa, respira – e faz o leitor respirar junto.

A Guerra e a Paz, de Liev Tolstói
1.400 páginas
Se há um livro que fala de toda a humanidade em apenas um fôlego, é “A Guerra e a Paz”. Tolstói não apenas conta a história de nobres e soldados russos; ele investiga a essência da vida em meio à destruição e à incerteza. Orwell via nesse épico não só o talento monumental de um escritor, mas o poder de capturar as complexidades do espírito humano. Em tempos de guerra e de crise, como os que Orwell tão bem conheceu, Tolstói oferece um espelho onde nos reconhecemos e, quem sabe, nos entendemos melhor.

Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski
840 páginas
Dostoiévski sempre foi uma figura ambígua para Orwell – mas inescapável. Em “Os Irmãos Karamázov”, cada página carrega o peso das grandes questões morais: culpa, livre-arbítrio, amor e fé. São temas que ressoavam com força no próprio Orwell, sempre em luta para reconciliar o idealismo com a realidade política de seu tempo. “Os Irmãos Karamázov” não oferece respostas fáceis – e é justamente por isso que Orwell o consideraria essencial. Um livro que desafia o leitor a escolher, a duvidar, a questionar sem trégua.

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Cândido, de Voltaire
120 páginas
A leveza aparente de “Cândido” engana. Com humor ácido e inteligência afiada, Voltaire destrói ilusões e expõe a mediocridade das convenções sociais. Orwell, sempre desconfiado dos discursos de salvação e dos profetas da felicidade compulsória, encontraria em “Cândido” um aliado. Voltaire ri da desgraça, mas não perde a esperança de que a razão e o espírito crítico podem nos salvar de nossos próprios delírios. Essa esperança lúcida era, para Orwell, o que fazia toda a diferença.

A lista de Orwell vai muito além de gostos pessoais. Ela revela o que, para ele, faz a literatura ser literatura: a recusa ao dogma, o amor pela dúvida e a coragem de dizer o indizível. Cada um desses livros é um testemunho do poder transformador da palavra. São obras que não apenas contam histórias, mas moldam consciências e mantêm viva a chama da humanidade.