Heloisa Teixeira, escritora e membro da ABL, morre aos 85 anos

A escritora, crítica literária e pensadora do feminismo Heloisa Teixeira faleceu nesta sexta-feira (28), no Rio de Janeiro, aos 85 anos. A causa da morte foi complicações de uma pneumonia e insuficiência respiratória aguda. Internada na Casa de Saúde São Vicente, na Gávea, Heloisa deixou um legado inestimável na literatura, na cultura e no pensamento feminista brasileiro.

Nascida em Ribeirão Preto, Heloisa Teixeira trilhou um caminho brilhante na literatura e na crítica cultural. Foi a décima mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira 30, anteriormente pertencente a Nélida Piñon. Sua presença na ABL simbolizou mais um o na ampliação do espaço feminino dentro de uma das mais tradicionais instituições literárias do país.

Graduada em Letras Clássicas pela PUC-Rio, Heloisa obteve mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ e realizou pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Ao longo de sua trajetória, desenvolveu pesquisas fundamentais sobre cultura, feminismo, literatura e o impacto das novas tecnologias na produção e no consumo cultural.

Mudança de sobrenome e reafirmação da identidade

Recentemente, Heloisa optou por uma mudança significativa em sua identidade pública. Abandonou o sobrenome de casada, Buarque de Hollanda, pelo Teixeira, nome de solteira e sobrenome materno. Em uma entrevista ao jornal “O Globo”, explicou que a decisão estava atrelada a um desejo de reafirmação pessoal e à conexão com suas raízes familiares.

Heloisa Teixeira, escritora e membro da ABL, morre aos 85 anos

Uma vida dedicada ao pensamento e à cultura

Além de seu trabalho como escritora e pesquisadora, Heloisa teve papel central em diversas iniciativas culturais. Foi diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC-Letras/UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Tecnologias Sociais, do projeto Universidade das Quebradas e do Fórum M, espaços que fomentaram debates sobre cultura, periferia e questões de gênero.

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Heloisa também dirigiu a Aeroplano Editora e Consultoria, a Editora UFRJ e o Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ). Na comunicação, esteve à frente de programas como “Culturama”, na TVE, e “Café com Letra”, na Rádio MEC. Sua atuação se estendeu ao cinema, dirigindo documentários como “Dr. Alceu” e “Joaquim Cardozo”.

Obras

Autora de obras fundamentais para a literatura e o pensamento cultural no Brasil, Heloisa Teixeira influenciou gerações com sua escrita afiada e sua visão inovadora. Entre seus principais livros, destacam-se:

  • 26 Poetas Hoje (1976) – coletânea que revelou poetas da chamada “Geração Mimeógrafo”, como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal.
  • Macunaíma, da Literatura ao Cinema – estudo sobre adaptações do clássico de Mário de Andrade.
  • Cultura e Participação nos Anos 60 – análise sobre os movimentos culturais da década de 1960.
  • Pós-Modernismo e Política – reflexão sobre os impactos da pós-modernidade na política e na cultura.
  • O Feminismo como Crítica da Cultura – uma das obras centrais para o pensamento feminista no Brasil.
  • Explosão Feminista – Arte, Cultura, Política e Universidade – estudo sobre o impacto do feminismo na cultura e na academia.
  • Escolhas, uma Autobiografia Intelectual – relato de sua trajetória e influências intelectuais.

Heloisa também atuou como curadora de exposições importantes, como Dez Anos sem Chico Mendes (1998), Estética da Periferia (2005), H2O – O Futuro das Águas (2009) e Vento Forte: 50 Anos de Teatro Oficina (2009).

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Uma referência na luta feminista

Heloisa Teixeira foi uma das vozes mais importantes do feminismo no Brasil. Suas obras e pesquisas abordaram a relação entre cultura e gênero, trazendo reflexões essenciais sobre as desigualdades e os desafios enfrentados pelas mulheres na literatura, na academia e na sociedade. Seu livro Feminista, Eu? desmistificou estereótipos sobre o movimento e reforçou a importância do feminismo como uma ferramenta de transformação social.

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Conclusão

A morte de Heloisa Teixeira representa uma perda irreparável para a literatura e o pensamento cultural brasileiro. Sua trajetória foi marcada pela coragem de desafiar estruturas, ampliar horizontes e dar voz a temas e grupos historicamente marginalizados. Seu legado permanecerá vivo em suas obras, nos debates que impulsionou e nas gerações que inspirou.